Apresentação
Por Extenso – Boletim de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural é uma publicação anual do Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa. A tiragem atual de 100 exemplares.
Apresentação, por ocasião do lançamento da edição 2016, do Boletim:
No ano de 2016, o Por Extenso: Boletim de Pesquisa de Pós-Graduação em Extensão Rural, do Programa de Pós-graduação em Extensão Rural – PPGER, chega a seu oitavo número apresentando os resultados de onze pesquisas conduzidas no PPGER, mostrando a diversidade e a qualidade teórico-metodológica promovida pelo programa de pós-graduação em Extensão Rural da UFV ao longo desse ciclo. O primeiro resumo do boletim, intitulado Juventude rural e emoções: fatores subjetivos de valorização do campo se embrenha em um tema relativamente novo e promissor, a antropologia das emoções. Ao analisar os jovens rurais do município de “Derrubadas”, no Rio Grande do Sul, percebe-se que os jovens rurais têm perspectivas positivas sobre o seu meio. As emoções desses jovens rurais revelam que a gurizada tem apreço pelo meio rural, mostrando, assim, que a saída do meio rural pode se constituir mais em uma falta de oportunidade do que em um desejo.
Tão jovem quantos os indivíduos analisados no trabalho anterior são as políticas públicas de extensão rural que têm por foco a agricultura familiar. É sob essa temática que o artigo A atuação da unidade regional da EMATER de Viçosa-MG: descrição e análise da ATER pública se debruça. Vemos pelos resultados que na região de Viçosa-MG ainda há um grande caminho a percorrer até a solidificação de uma extensão rural pública, voltada à sustentabilidade ambiental e econômica do pequeno produtor.
As políticas de assistência técnica e extensão rural (ATER), também são o tema do estudo O capital social como fator de desenvolvimento rural sustentável nos serviços de ATER do INCAPER. Um dos principais objetivos da pesquisa apresentada no artigo foi analisar a eficácia destas políticas na dinamização de práticas voltadas para a promoção do desenvolvimento rural sustentável. Debruçando sobre essa temática, os autores mostram que o capital social mobilizado através das Instituições de ATER se constitui em um vetor do desenvolvimento nas comunidades rurais pesquisadas no Espírito Santo, embora essa capacidade de mobilização ainda se mostre muito incipiente.
Tratando, ainda, da questão do desenvolvimento rural, o artigo Novas perspectivas para o desenvolvimento rural: uma análise normativa, conceitual e prática dos Montes Vicinais em Mão Comum Galegos e das unidades de conservação brasileiras traz exemplos de formas de desenvolvimento rural no Brasil e na Espanha. O trabalho se pauta pelo approach que entende o desenvolvimento como liberdade, seguindo a linha do Prêmio Nobel de economia Amartya Sen. Procura demonstrar como a ação coletiva nos Montes Vicinais em Mão Comum, na Galícia, e nas reservas extrativistas no Brasil, possibilitam, ainda que por meios distintos, o acesso à terra e aos recursos naturais comuns.
Pequenos produtores ribeirinhos, de cidades do norte da Zona da Mata Mineira, atingidos por barragens, são os protagonistas do artigo O repertório de ação coletiva dos atingidos envolvidos nos conflitos com hidrelétricas na Zona da Mata Mineira, na passagem do século XX para o XXI. Ao fazer uma análise documental se expôs a trajetória do repertório de ação coletiva desenvolvido “antes”, “durante” e após os processos de negociação em torno dos empreendimentos hidrelétricos. Na comunidade de Casa Nova, o projeto não foi executado, já em Emboque e Granada, as ações coletivas não impediram a marcha das hidrelétricas. O artigo analisa as nuances relativas a estes repertórios de ação coletiva, nas três comunidades, os quais tiveram a Igreja Católica e a universidade como os principais mediadores dos processos envolvendo a tentativa de implementação dos empreendimentos hidrelétricos. Os autores mapearam três categorias de repertório de ação coletiva: o técnico-científico; o confronto direto e a informação-educação.
Tendo também como tema os conflitos no meio rural brasileiro, o artigo Organização comunitária como ferramenta de luta para a criação e consolidação da Reserva Extrativista Marinha de Canavieiras-BA, faz uma leitura da situação atual da reserva extrativista. Fruto da mobilização da comunidade, os autores destacam as virtudes e as limitações das iniciativas sociais presentes no referido contexto. Destacam, ainda, a importância das atividades de solidificação da Reserva Extrativista, como a implementação de um Banco Comunitário.
Ainda no âmbito das reservas extrativistas, o trabalho O castanhal enquanto patrimônio de uns e sobrevivência de outros: relações de conflito e poder na Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema procura demonstrar os arranjos de governança comuns utilizados nos castanhais. O estudo destacou a existência de regras implícitas na exploração da castanha, as quais se impunham através das gerações. O estudo conclui que, considerando-se os moldes propostos por Ostrom, sem a participação e o processo contínuo de elaboração das regras de exploração, a governança dos recursos comuns não pode ser alcançada.
No campo formal das regras, regidas pelo estado de direito, temos o artigo Interferências do direito sobre os meios de vida de agricultores familiares: um estudo dos efeitos da legislação ambiental na Zona da Mata Mineira, que trata dos efeitos que a duralex tem sobre os modos de vida dos agricultores familiares. Os autores retratam a situação periférica em que se encontram esses indivíduos no contexto judiciário. Concluem que, na região de Viçosa-MG, medidas extrajudiciais, como os Termos de Ajustamento de Conduta, se tornam inócuos diante das limitações educacionais
dos pequenos produtores rurais. Destacam, ainda, que a judicialização dos processos impõem aos agricultores mudanças em seus modos de vida.
Ainda no âmbito jurídico, tem-se a apresentação do artigo Os processos do processo: (re)apropriações e (re)ssignificações dos direitos pela comunidade quilombola de Córrego do Meio/MG. A referida pesquisa foi desenvolvida no pequeno município de Piranga-MG, no povoado de Córrego do Meio, o qual foi oficialmente reconhecido como comunidade quilombola em 2015. Através da metodologia da “participação observante”, o estudo analisa as peculiaridades do processo de (re)apropriação e (re) ssignificação do direito estatal.
Já o artigo Imigração e configuração das territorialidades no Vale do Araguaia-MT apresenta a problemática da reprodução das formas de desigualdade regional existentes no Brasil, ao destacar a forma de implementação das políticas públicas direcionadas aos diferentes grupos de migrantes atraídos pelo Estado para colonizarem a região Centro-Oeste. Como demonstra o estudo, no caso do Vale do Araguaia há indícios da constituição de territórios de identidade, os quais refletem o local de origem dos imigrantes.
A apresentação de fatores culturais e tradicionais permeiam o último artigo apresentado neste oitavo número do Por Extenso. Intitulado, Patrimonialização, tradição e transmissão: o saber fazer doces artesanais no distrito de São Bartolomeu (Ouro Preto/Minas Gerais), o artigo analisa o estado-da-arte da alimentação. Os autores destacam como essa atividade transcende a simples revigoração fisiológica, destacando o espaço social alimentar, mais especificamente, o espaço culinário. O estudo do distrito de São Bartolomeu descreve a forma como a patrimonialização da fabricação de doces artesanais se reproduz. Na conclusão, os autores destacam a importância sociocultural que a alimentação e a transmissão do saber- fazer tradicional tem para a manutenção da comunidade.
Este volume representa, portanto, a diversificação e alcance das linhas de pesquisa do PPGER. Este programa espera que o volume possa contribuir para a agenda de pesquisa e estoque de informação sobre os temas aqui elencados. Boa leitura!
Com meus melhores cumprimentos,
Prof. Gustavo Bastos Braga
Docente do Programa de Pós-Graduação
em Extensão Rural – PPGER/UFV